O Relógio que Aprisiona no Tempo: Ele Nunca Voltou

Algumas escolhas mudam tudo, mesmo que feitas no silêncio de um pequeno mercado de rua. Ali, entre milhares de objetos estranhos, meus olhos foram direto para um relógio de bolso antigo, escondido atrás de cortinas de poeira e mistério. O vendedor me olhou de forma enigmática enquanto o coloquei nas mãos, sentindo o peso de séculos e segredos.

À noite, envolto pela luz fraca do abajur, decidi girar os ponteiros para meia-noite. Juro: acordei na manhã do dia anterior, como se o tempo fosse apenas mais uma página para ser virada. Num piscar de olhos, tudo parecia possível. Voltar para evitar um erro, cancelar uma palavra mal dita, chegar a tempo onde antes chegara atrasado. O relógio era meu parceiro silencioso, cada vez mais presente na rotina de corrigir o que achava imperfeito.

Mas quanto mais tentava, mais a realidade parecia se afastar. O pôr do sol nunca era igual, os sorrisos pareciam de outra época. E na busca de acertar o impossível, quis ir ainda mais fundo. Girei os ponteiros com pressa, como se pudesse escapar das consequências. Num instante, tudo mudou.

Agora, tudo o que resta são paredes de papel de parede desbotado, uma janela para um mundo esquecido, e o som de cavalos lá fora, na chuva. O relógio que prometia liberdade se tornou prisão. E enquanto a chuva continua lá fora, só resta o aviso silencioso: Cuidado com o que queremos mudar.

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